27 de mai. de 2015

TERCEIRIZAÇÃO SENTIDA NA PELE

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Vantagens (algumas hipotéticas e incertas,
como qualidade do serviço) todas para o terceirizador.
CENA 1: Estive na cidade sulmineira de Passa Quatro. Para que uma floricultura, em Patos de Minas, pudesse mandar flores para minha mulher, precisei fazer um depósito na Caixa Econômica Federal (e só na Caixa Econômica Federal). Atravessei a linha férrea e cheguei à porta da Caixa. Fechada. Alguns funcionários dentro. Perguntei: mas fechado, já? Faltam quinze para as quatro. Preciso apenas fazer um depósito. Um(a?) servidor(a?) respondeu que a Caixa fechara às três da tarde. Assustei-me: só até as três da tarde? A pessoa objetou que começam às dez e fecham às quinze. Acrescentou que eu poderia fazer o depósito na lotérica (lugar de onde estivera perto, pouco antes; lá tudo é perto). Voltei a atravessar a linha e fui à lotérica. Atendido por uma moça, fiz meu depósito (a entrega das flores ficou garantida com transmissão, por e-mail, do comprovante do depósito).
Observo, pela frequência em casas lotéricas em várias cidades (todas da Caixa), que o foco pende mais para depósitos, retiradas, pagamentos de contas, enfim, serviços bancários. Parece-me que loteria é uma carona.
Vejamos mais um lado da terceirização: funcionários(as) da Caixa Econômica Federal, com tudo a que o status dá direito, atendem das dez da manhã às três da tarde. A trabalhadora terceirizada da lotérica (com atividade-fim terceirizada) trabalha das oito às dezoito (com horário de almoço, presumivelmente). Muito provavelmente, não ganha salários iguais para idêntica atividade, além de vender a sorte. A segurança no emprego também tem menos garantia.

CENA 2: Em Patos de Minas, precisei fazer um depósito de R$450,00 no Bradesco (só podia ser no Bradesco), para pagar uma encomenda profissional de minha mulher, requisito para que o material lhe fosse enviado (só após a comprovação do depósito, também por e-mail, para agilizar). Sabendo que há uma loja (Le Sénéchal) próxima da agência do Bradesco, que opera recebimentos para o mesmo, dirigi-me até lá. Havia uma fila com mais de cinco pessoas, inexistindo aquela preferência para idosos, de forma explícita. Tinha de ser na cara dura mesmo, o que, em geral, provoca exclamações de descontentamento. Para evitar a situação, dirigi-me à agência. Uma atendente abordou-me, antes que tivesse podido penetrar na área de trabalho, e perguntou-me o que desejava. Falei do depósito. Indicou-me o caminho da Le Sénéchal. Objetei que tinha pressa e que preferia depositar na agência mesmo. Perguntou-me o valor do depósito. Informei: R$450,00. Disse-me que depósitos de valor menor do que R$500,00 devem ser feitos na Le Sénéchal. Insisti e disse, com firmeza, que queria fazer o depósito ali e expus minhas razões. A moça cedeu e fiz o depósito necessário ao envio do material de trabalho.
Ali, a terceirização implica as mesmas circunstâncias da terceirização na Caixa Econômica Federal: uma atendente da loja executa os procedimentos típicos de bancários - atividade fim. Provavelmente, terá salário inferior ao de quem executa a mesma atividade, na agência Bradesco.
Além de outras simulações e mesmo situações reais, concluo que o trabalhador terceirizado executa as mesmas atividades e ganha salário inferior.
Quanto a mim, consumidor, recebi serviço de qualidade inferior.
Pior: a discriminação, pela exigência de valor mínimo de depósito, o banco colocou-me em minha real situação de pobre!


Imagem: utopia.
http://www.utopiaconsultoria.com.br/terceirizacao-uma-alternativa-para-aumentar-a-eficiencia/


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