29 de jun. de 2013

"O 'OLÉ' NASCEU NO MÉXICO"

É João Saldanha quem nos conta como e onde nasceu o "olé", tão gritado pela torcida quando o seu time fica trocando passes, sem deixar que qualquer adversário ganhe a bola. O título está como no original, no livro "Os Subterrâneos do Futebol". Transcrevo só o trecho alusivo à aparição do "olé".

"Estava muito difícil fazer gol. Poucas vezes vi um jogo disputado com tanta seriedade e respeito mútuos. Mas houve um espetáculo à parte. Mané Garrincha foi o comandante. Dirigiu os cem mil espectadores, fazendo reagirem à medida de suas jogadas. Foi ali, naquele dia, que surgiu a gíria do Olé, tão comumente utilizada posteriormente em nossos campos. Não porque o Botafogo estivesse dando Olé no River. Não. Foi um olé pessoal. De Garrincha em Vairo.
Nunca assisti a coisa igual. Só a torcida mexicana com seu traquejo de touradas poderia, de forma tão sincronizada e perfeita, dar um Olé daquele tamanho. Toda vez que Mané parava na frente de Vairo, os espectadores mantinham-se no mais profundo silêncio. Quando Mané dava aquele seu famoso drible e deixara Vairo no chão, um coro de cem mil vozes exclamava: 'Ôôôôô-lê"! O som do Olé mexicano é diferente do nosso. O deles é o típico das touradas. Começa com um ô prolongado, em tom bem grave, parecendo um vento forte, em crescendo, e termina com a sílaba "lê" dita de forma rápida. Aqui é ao contrário: acentua-se mais o final "lé": "Olééé!" - sem separar, com nitidez, as sílabas em tom aberto.
Verdadeira festa. Num dos momentos em que Vairo estava parado em frente a Garrincha, um dos clarins dos mariaches atacou aquele trecho da Carmen que é tocado na abertura das touradas. Quase veio abaixo o Estádio Universitário.
Numa jogada de Garrincha, Quarentinha completou com o gol vazio e fez nosso gol. O River reagiu e também fez o dele. Didi ainda fez outro, de fora da área, numa jogada que viera de um córner, mas o juiz anulou porque Paulo Valentim estava junto à baliza. Embora a bola tivesse entrado do outro lado, o árbitro considerou a posição de Paulinho ilegal. De fato, Paulinho estava offside. Havia um bolo de jogadores na área, mas o árbitro estava bem ali. E Paulinho poderia estar distraindo a atenção de Carrizo.
O jogo terminou empatado. Vairo não foi até ao fim. Minella tirou-o do campo, bem perto de nós no banco vizinho. Vairo saiu rindo e exclamando: "No hay nada que hacer. Impossible" - e dirigindo-se ao suplente que entrava, gozou:
"- Buena suerte muchacho. Pero antes, te aconsejo que escribas algo a tu mamá."
 


Fonte: Os Subterrâneos do Futebol, João Saldanha, Livraria José Olympio Editora, 3ª edição,  Rio de Janeiro, 1982, págs. 103/104.
Foto Garrincha: Minha Gorda Querida (o "o" de "gorda" é uma bola).

 

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