29 de out. de 2012

EDUCAÇÃO COMEÇA ASSIM

Voltei de São Paulo, sábado para domingo. Viagem muito longa, tempos dormindo, tempos acordado. Nem sempre é silêncio. Ouvi um garoto, sentado atrás de mim, conversando pelos cotovelos. Não prestei muita atenção, porque o sono chegou logo e cochilei um tempão. Depois da parada em Limeira, dormi até quase chegar em Araxá. Parada que aproveitei para um cafezinho, por volta das cinco da matina. De lá para cá, vim desperto. Aí, ouvi muito papo do garoto. Bem coordenado e com vocabulário muito rico para o que me parecia a idade dele.
Falava para a mãe que, em carro, o mais importante é não colocar a mão no motor. Queima, disse ele, como queimei meu pé, encostando no pneu, depois de o carro rodar muito.
Lembrei-me de que minha Madrinha - irmã mais velha, hoje com 83 aninhos - cantava para mim: "O saci Pererê, Pererê, Pererê andava só com um martelo na mão; um dia, ele machucou o dedo e não andou mais com o martelo na mão". Pensei: é, as coisas são assim mesmo. Só aprendemos depois que a casa cai.
O garoto continuava falando de carro. Disse que para dirigir não pode tomar "cerveja
alcoólica" (expressão dele). Falou dos defeitos que pode dar e arrematou: "se for taxista, pode passar do ponto", ou coisa parecida.

Depois, falou de estrelas cadentes. Perguntou se todas as estrelas cadentes caem. Coisa parecida.
Por fim, ouvi-o falando que o sol é uma bola de fogo, que foi a avó dele quem lhe contou.
Deu para perceber que é uma criança com quem as pessoas conversam. Falou dos riscos do trânsito e do romantismo das estrelas cadentes, do espetáculo da bola de fogo. Bastante informação, que não se adquire, para guardar, senão em conversas com pais, padrinhos, madrinhas.
Percebi que o raciocínio é bastante lógico e que o menino sabe lidar com as informações que lhe passaram.
Quando estiver rapaz, já terá tido notícia dos perigos das máquinas, e do que devemos evitar no trato com elas. Já terá informação sobre a inconveniência de dirigir veículos sob efeito de álcool. Estará, também, perto das idéias de romantismo.

A família desembarcou quando chegamos em Patrocínio.
Não resisti. Desci e fui falar com o garoto. Pareceu-me não ter mais do que seis anos. Pedi autorização à mãe dele, que concordou. Perguntei-lhe sobre quem fala para ele sobre estrelas cadentes. Apontou o dedinho para a mãe, uma jovem senhora. Disse-lhe que minha mãe também falava comigo de estrelas cadentes. Não tive tempo de dizer que falava, também, do Cruzeiro do Sul, das Três Marias e - com grande encantamento - da Via Láctea. O motorista do ônibus já chamava para partir.
Achei ótimo ter tido a companhia do Kauan, durante nossa viagem. Menino cuja educação começa em casa.

Foto estrela: Símbolos.
https://www.simbolos.com.br/estrela-cadente/
Foto álcool+volante: AUTO ESPORTE.
https://autoesporte.globo.com/carros/noticia/2018/05/quanto-tempo-depois-de-beber-eu-posso-dirigir.ghtml

4 comentários:

Tainah disse...

Ah! Que história bonitinha.
Me fez lembrar da vez que ficamos alguns anos sem nos ver e um dia, indo pra casa da tia Ana, te encontrei na rodoviária indo pro mesmo lugar que eu.
Lembra?
Parei na sua frente, falei um "oi", você não entendeu.
Acrescentei um "oi vô" e funcionou!

hahahahahahahah

marco antônio comini christófaro disse...

Respeito é bom e eu gosto, Tainah! Oi só? E o vô? Tinha de vir, não? Não me lembro mas acho maravilhoso você se lembrar. Como eu me lembro da minha Madrinha. Jã não passei por este mundo em vão... Beijos!

Tainah disse...

Hahahahahaha
Desculpa... é que eu também não tinha certeza se era você.

Lembro certim.
Eu estava sentada sozinha esperando meu ônibus.
Te vi na minha frente, uns seis metros, olhando pra cima, lendo alguma placa.
Depois a gente pegou o mesmo ônibus e numa coincidência incrível nossas poltronas eram irmãs (provavelmente pq compramos a passagem lá em Pouso Alegre com alguns minutos de diferença)

Na época eu tinha mania de escrever contos.
Cheguei até a escrever sobre isso.
Não lembro onde tá.
Mas eu lembro da história, isso que importa.

Bjs, vô!




marco antônio comini christófaro disse...

Reescreva, Tainah! E manda pra mim. Beijão!