13 de mai. de 2012

DIAS DA MÃE

Publiquei aqui obras de Inezita Barroso e de Nei Lopes*, ambas com enfoques diferentes do Dia das Mães (edito agora, a letra é de Celina Blanco Hermes e a melodia do irmão Billy Blanco **). Pode não ser simpático. Pode, mesmo, ser antipático. Reflete, para mim, a importância do dia-a-dia com a mãe. Repito que tive uma convivência muito agradável com a minha. Só para imaginar: minha mãe nasceu em 1907 e morreu em 1985. Na década de setenta, quando surgiam algumas manifestações sobre homossexualismo, de artistas da música e da TV, falamos sobre o assunto, com análise das modificações sobre evidências e tolerância, desde a minha adolescência até a meia idade. Não era assunto que se discutisse livremente, à época. Disse-lhe que, quando era rapaz, as buscas de relações homossexuais eram discretíssimas, havia uma repressão muito grande. E que, à época de nosso papo, Gil já tinha emplacado o "Super Homem" e artistas falavam abertamente sobre homossexualismo, e muitos fãs gostavam. Disse, então, que, antes o número dos homossexuais crescia, pelo menos para fins estatísticos, em progressão aritmética; depois, passou a crescer (ou explicitar-se) em progressão geométrica. Minha mãe, mística, observou: será que não é uma das revelações no Apocalipse, de que nos último sete anos não iria nascer criança? Um comentário absolutamente tranquilo, no meio da década de 1970, sobre um assunto que ainda hoje é muito polêmico. Tínhamos muito em comum: gosto pela arte, contemplação e, para variar, uma tendência inarredável para a boêmia. Minha mãe trabalhou muito, e trabalhou duro. Tinha seus momentos de contrariedade, até. As dificuldades eram muito grandes. Mas gostava de música. Diz minha irmã-Madrinha que, antes que eu ingressasse na adolescência, só dava ópera e clássicos. No entanto, aprendi, com minha mãe, sambas que nunca vi gravados. Coisa muito antiga. Penso que achava bacana ópera e clássicos (conhecia muito e gostava de verdade) mas curtia também o popular. Observadora, mostrou-me que duas letras de músicas escritas de modo completamente diferente, tinham o mesmo sentido: "Eu amanheço pensando em ti, eu anoiteço pensando em ti, eu não te esqueço, é dia e noite pensando em ti", na voz de Nelson Gonçalves, e "De manhã eu visto ela, no lugar do paletó. Vestir roupa é muito bom, mas vestir ela é bem melhor", um xote cantado por Ivon Curi. Gostava demais de uma cervejinha em boteco, com tira-gosto. Convidei-a e acompanhei-a muitas vezes. Papos longos e divertidos e toma farra! Falo sobre ela com gosto e admiração, muita amizade. E, de vez em quando, falo com ela, ainda.
Resolvi postar, então, minha visão de Dia das Mães. Já disse aqui que não curto os tais "Dia de". Não tem dia do Lula, dia do FHC, dia do Eike,... Quem tem "Dia" não está com muito, não. Façam a lista. Prefiro, então, falar sobre os Dias da Mãe.


Mãe, tu és sublime figura do altiplano,
grandioso exemplar, modelo de mulher,
somente um dia, apenas uma vez por ano,
quando a sociedade de consumo quer!

Aí, então, teus filhos, zelosos, te bendizem,
te cantam loas, jogam flores, doce engano,
porque as homenagens se fazem, sabes bem,
somente um dia, apenas uma vez por ano.

Mas tu, Mãe, tu não concebes o amor assim,
de exposição, somente da boca pra fora,
fugaz, incerto como o amor de todo-mundo.

Tu, tu continuas amando até o fim,
trazendo ao peito um grande amor, a cada hora,
minuto a minuto, segundo por segundo!

Imagem: Queridos Filhos.
http://queridosfilhos.org.br/mensagem.html


* Curiosos poderão encontrar o samba de Nei Lopes, "Rainha do Lar", em https://www.youtube.com/watch?v=ZPdD53h0B0o.

** E se quiserem saber algo sobre a composição de Celina Banco Hermes e Billy Blanco, podem ver como Billy conta a estória, em "Dever de justiça: autoria de 'Ser Mãe é Dureza' ", em http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com/2014/05/dever-de-justica-autoria-de-ser-mae-e.html. Ali encontrarão link para ouvir a canção, uma versão "puxada para o hilário", no dizer de Billy Blanco.


2 comentários:

Pao-Lo disse...

"Vestir roupa é muito bom, mas vestir ela é bem melhor."

Billy Corgan (Smashing Pumpkins) disse sobre o, na época, novo álbum dos Pumpkins:
"Subestimei a morte da minha mãe. Aconteceu agora e felizmente pude dizer a ela o quanto a amava. Ainda assim me sinto em falta."

Calha explicação: os "Smashing Pumpkins" (minha banda predileta juntamente com Beatles-Floyd) haviam lançado o CD duplo de rock mais vendido da história. Sim, isso mesmo. E esse sujeito, Billly Corgan, é um compositor compulsivo. E genial.

Claro que não é genial em tudo. Nesse momento ele caminha pras 2.000 canções compostas e gravadas. Porque, segundo ele (aiaiaiaiai), ele nunca gravaria uma mesma canção duas vezes.

Devo dizer que nunca vi um homem de alma tão feminina enquanto compositor. Sim, Chico Buarque tá atrás. E curiosamente as mulheres pouco caso fazem do Billy.

Nas palavras dele pode estar a explicação:
"Nunca sou um homem cantando. Até pela influência da minha mãe, das estrelas do cinema da época (Velha Hollywoood), eu sou uma criança cantando ou uma mulher; nunca sou um homem cantando."

Afff... pra mim música é sempre uma mulher cantando. Seja quem for hehheheheh.

marco antônio comini christófaro disse...

Paulim do céu! Este blog não me retorna os comentários. Quando revisito uma publicação e vejo comentário, entro nele. Já entrei em um seu. Que legal este comentário, ingressando no universo infantil e feminino cantador. Muito interessantes e importantes suas anotações. Vou até conhecer o cara (conheço muito pouco as canções em língua estrangeira. Como as que conheço são boas, o defeito é meu. Grande abraço, Paulim!