8 de mar. de 2012

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

CHIQUINHA GONZAGA: PARA MIM,
O PARADIGMA DE MULHER: ESNOBOU
A SUBMISSÃO A UM PAI CORONEL DO
EXÉRCITO BRASILEIRO E A UM MARIDO
RICO E FAMOSO, PARA EXERCER SUA ARTE.
VIROU MONSTRO
SAGRADO DA MPB.
Poderei ser considerado antipático. Faz parte do meu perfil. Acho que, se a Constituição Federal exclui da vida em sociedade qualquer tipo de discriminação, penso que fica mal o Estado estabelecer homenagens a gêneros diferentes, a profissionais diferentes, a atividades diferentes. Um montão de homenagens. Sérgio Porto - o Stanislaw Ponte Preta - criticou, há muitos anos (se bem me lembro, em "Festival de Besteiras que Assola o País") um projeto de lei, na Câmara dos Deputados, para criação do Dia da Avó, argumentando o deputado proponente - Stanislaw chamava-o de "cocoroca" - que, até então, ninguém se lembrara de homenagear aquela velhinha simpática, aquele popular símbolo de avó. Stanislaw objetava: ninguém se lembrou de que, antes de ser avó, nenhuma mulher passara sem ter sido mãe antes. Mas a minha bronca não é com a discriminação, não. Só afirmo que esta me incomoda, mas acho que tem coisa mais séria a discutir.
Os tais dias (nada a ver com ciclos femininos, TPM, etc.) só podem ser elevados à categoria de homenagens através de leis. Ou seja, a elevação só é possível se aprovada por parlamentares. Resulta, sem dúvida, que os homenageantes "faturam" mais do que os homenageados. Conseguem - ou pelo menos buscam - atrair para si a simpatia daqueles que gostam da homenagem, um número que precisam eles, políticos parlamentares, seja cada vez maior, porque representam votos. Político precisa distribuir simpatia, na tentativa de equilibrar a balança. Escolhem, sempre, uma categoria sofredora, discriminada, etc., ou uma atividade sumamente complicada, havendo muita gente esperando que a complicação seja excluída. Depois de elevado o dia à categoria "dos tais dias", nenhum compromisso objetivo para excluir a complicação, até, às vezes, por impossibilidade decorrente de malfeitos anteriores. Minha conclusão é no sentido de que "quem tem dia não está com nada" (assumo a responsabilidade). Vamos lá: tem Dia do Lula? Dia da Dilma? Dia do Sarney? Dia do Presidente da República? Dia do Senador? Dia do Deputado? Dia do Eike? Dei uma voltinha na Google e só encontrei "Dia do Vereador" (são mais de cinco mil em todo o país, multiplicadores entre seus seguidores, e mais fáceis de se emocionar com homenagens). Vejamos, agora, o que achei: Dia Mundial da Paz (Credo!); Dia da Gratidão (???); Dia do Enfermo (o INSS e o SUS pedem passagem); Dia do Carteiro; Dia da Previdência Social (os aposentados também pedem passagem); Dia do Zelador; Dia Mundial do Enfermo (olha o enfermo aí de novo; quando o dia é mundial, ou internacional, a coisa é mais séria); Dia do Fuzileiro Naval (se já tem Dia do Soldado, o Fuzileiro Naval já não estará devidamente homenageado? precisa de mais?); tem Dia da Eliminação da Discriminação Racial (avisa aí para alguns torcedores nos estádios de futebol e nos ginásios de voleibol); tem Dia do Circo e Dia do Teatro, no mesmo dia (bacaninha, não? será que a elevação ocorreu em uma lei só, ou foi preciso editar duas?); tem Dia Mundial da Saúde (cuidado, gente! é dia mundial!); tem Dia do Índio, cara! (a Baby Consuelo "do Brasil" tornou famosa a bronca de Jorge Ben Jor); tem Dia do Goleiro (dizia-se que no pedaço em que ele joga não nasce grama); Dia da Educação! (meu Deus!).
Acabei achando Dia do Parlamento e Dia do Legislador. Estão "com muito" mas é de dinheiro, prestígio, broncas e quejandos. E não vou enumerar o ano inteiro. Vou finalizar com as atenções de legisladores para com uma das atividades mais complicadas, mais complicadoras, mais caóticas que temos neste país: o trânsito. Antes, era só dia; depois, foi elevado à categoria de semana; agora, temos a Década de Ação Para Segurança no Trânsito. Maamããããããe! É década!!!!!
Afirmo, de coração, que tenho nada contra existir um Dia Internacional da Mulher. Mas eu, pessoalmente, não aceitaria que políticos, parlamentares e outros que tais viessem a criar um "Dia do Marco Antônio". Não gostaria de estar na companhia de dias homenageando pessoas e atividades que estão muito por baixo. Dia da Mulher - como, de resto, dia de todos e de tudo - é todo dia. Acrescento: a mulher não alavancou seu status social nem batendo panela, nem fazendo protestos. Foi mostrando serviço!

Um comentário:

Raíssa Christófaro disse...

concordo contigo. mas existe um outro olhar, também interessante, de pessoas como ela:

http://filosofiacinza.wordpress.com/2012/03/08/a-manicure-da-vez-era-outra/