2 de mar. de 2012

CAÇAROLA - O VALOR DE CADA UM


Caçarola era um soldado da PM, no 12º Batalhão de Polícia Militar, em Passos – MG, nos anos sessenta. Aparência de um tabaréu, fala idem - era o típico roceiro - fazia a faxina do quartel. Não largava sua caixinha de rapé (para quem não conhece outra denominação, penso que vale a pena procurar), do que se aproveitava o major Fleury, para meter o dedo na caixinha e filar uma cheirada. Eu era o capitão Comini. O Caçarola dizia que só admitia que o major Fleury e o capitão Comini o chamássemos de Caçarola. Qualquer outro que o fizesse ele iria dizer que Caçarola é a... bem, passou muito tempo, esqueci-me. Não sei o porquê do privilégio. No tempo em que os pagamentos de vencimentos à tropa eram tardios e o pessoal tinha dificuldades até para comprar meios necessários, o Caçarola comprava a crédito no mercado. Sem fiador. O Caçarola garantia-se. Pagava religiosamente! Certa feita, comprou uma cartucheira (a proteína que consumia vinha de codornas que caçava livremente, num tempo em que isto não comprometia a natureza, já que não havia agrotóxicos nem desmatamento exacerbado, para acabar com os bichinhos dos matos). Pois bem. O Caçarola prometeu pagar em quatro vezes. Comparecia à loja, efetuava o pagamento de uma prestação e solicitava ao vendedor que lhe deixasse ver a arma. O vendedor repetia o que já lhe havia dito quando da compra e primeiro pagamento: “Pode levá-la. A arma é sua. Você já até efetuou dois pagamentos. Metade”. Ao que o Caçarola respondia que só levaria a cartucheira após o pagamento final. Namorava a arma e devolvia-a, para que fosse guardada, até o próximo pagamento.
Faxineiro do quartel, o trabalho não era muito. Quartel muito pequeno, ainda um embrião daquilo que, em outro lugar, veio a tornar-se o quartel do 12º Batalhão. Dava para mantê-lo bem limpo, mesmo sendo um faxineiro solitário.
Um dia, pela manhã, o comandante chega ao quartel. Vai entrando e é abordado pelo Caçarola que, polegares das duas mãos para cima, sentenciou: “Ô, ‘seu’ comandante! O senhor lá em cima e eu cá em baixo, oh!

Imagem: Asterix - O Escudo Arverno (René Goscinny e Albert Uderzo - este o desenhista).

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