29 de fev. de 2012

QUANDO A GLOBO QUER (DURA LEX, SED LATEX).

Estava ouvindo, hoje, pela manhã, o André Rezeck, no Redação Sportv. Falava da lei da copa. Quando abordou a liberação de cerveja nos estádios, argumentou que acha impróprio levar tão longe certas coisas, como no caso de considerar a liberação de bebidas uma questão de soberania. Acha que não é para tanto.
Pretendo respeitar opiniões. Mas acho pouco provável que o André Reseck tivesse pensado sobre alguns conceitos de soberania, antes de emitir sua opinião. Tanto que, antes de continuar, fui procurar conceitos, para refrescar a memória. "Entende-se por soberania a qualidade máxima de poder social através da qual as normas e decisões elaboradas pelo Estado prevalecem sobre as normas e decisões emanadas de grupos sociais intermediários, tais como: a família; a escola; a empresa; a igreja, etc.". Vai por aí. "No âmbito externo, a soberania traduz, por sua vez, a idéia de igualdade de todos os Estados na comunidade internacional". "Jean-Jacques Rousseau transfere o conceito de soberania da pessoa do governante para todo o povo (corpo político ou sociedade de cidadãos). A soberania é inalienável e indivisível e deve ser exercida pela vontade geral (soberania popular)". "A partir do século XIX foi elaborado um conceito jurídico de soberania, segundo o qual esta não pertence a nenhuma autoridade particular, mas ao Estado enquanto pessoa jurídica. A noção jurídica de soberania orienta as relações entre Estados e enfatiza a necessidade de legitimação do poder político pela lei". Os destaques são meus. A fonte é a Wikipédia. Nem vou querer discutir a qualidade da enciclopédia eletrônica. Se forem buscar outras fontes, encontrarão coisa semelhante.
Pode ser que o André Rezeck tenha razão, se tomar apenas alguns excertos. Por exemplo: "A soberania é inalienável e indivisível e deve ser exercida pela vontade geral (soberania popular)". Perguntem à maioria dos cidadãos se querem cerveja nos estádios de futebol. Certamente, a resposta será sim. Então, autorizar a venda de cerveja nos estádios atende ao exercício da soberania popular. Mesmo sabendo-se que se trata de uma imposição da FIFA (que nem é Estado, mas dá uma de, impondo condições, a seu talante, para situar a copa do mundo em um ou em outro país, sempre de olho em seu patrocinador universal).
Mas tudo tem um nó. Será que, após a copa do mundo, a tal de soberania popular reinará, para manter a autorização para venda de cerveja nos estádios? Se fizerem isto, aí, sim. O povão estará exercendo sua soberania, mesmo que haja contra indicação de bebida alcoólica em lugares de grande aglomeração. E outras contra indicações, como dirigir sob efeito de álcool. Será que, em homenagem à FIFA, irão suspender o bafômetro, enquanto durar a farra? Porque haverá desdobramentos, é claro: autorizada a venda de bebidas alcoólicas nos estádios, será brincadeira espalhar bafômetros do lado de fora, ao final do jogo.
Só falta alguém vir dizer que futebol é momento e que o momento copa do mundo é momento de liberar cerveja. Momentos de campeonatos estaduais, brasileiros e continentais, não.
Não por acaso (creio), no Globo Esporte, à hora do almoço, quando a emissora abordou o jogo Brasil x Bósnia, abriu a abordagem com uma tomada no estádio, mostrando várias pessoas empunhando copos com cerveja.
Caiu a ficha: não sei por que, mas a Globo quer cerveja nos estádios. Teremos cerveja, com certeza!

Imagem: Blog Thiago Rodrigues.
http://bloglog.globo.com/blog/blog.do?act=loadSite&id=134&postId=29767&permalink=true

MANO DEIXA GANSO DE FORA. BRASIL MELHORA COM ENTRADA DE GANSO.

Contrariando os especialistas e a torcida, Mano Menezes deixa Ganso de fora. Todo mundo queria que Ganso entrasse de cara. Mas Ronaldinho foi preferido. Mano pode ter algo de razão, porque Ganso passou por período de contusões, tendo chegado a ficar muito devagar em campo, no jogo contra o Barcelona. Parece que Ganso ganhou força no campeonato paulista. Ganso entrando, a torcida fica mais animada, porque Ganso sabe criar. A seqüência de afastamentos, por quase nove meses, não só impediu que Ganso pudesse criar, mas também dificultou a retomada de forças. Por isto, Mano não quis arriscar. Deixou Ganso de fora, até os 17 do segundo tempo. Aí, aconteceu o que os especialistas e muitos torcedores queriam: Ganso entrou e pôde mostrar que sabe criar, para delírio de quantos queriam ver Ganso entrar. Agora, é esperar que, até as Olimpíadas e a Copa do Mundo, Ganso trabalhe forte, para entrar com toda energia e criar oportunidades para seus companheiros de seleção, para delírio de quem quer, sempre, que Ganso esteja dentro.

26 de fev. de 2012

O BÊBADO DO BAR INDEPENDÊNCIA

Era um bar simples, em Uberlândia. Não sei se ainda está lá. Costumávamos reunir alguns amigos, aos domingos, antes do almoço, para uma cervejinha, que podia estender-se até a hora do jogo. Papos furados, íamos levando a véspera de segunda, tentando aproveitar os últimos momentos. Aí, apareceu o bêbado. Surgiu de algum lugar indefinido, tudo de bebum: roupa amarfanhada, cabelos despenteados, passos indecisos e uma sede enorme. No que chegou à porta, ameaçando entrar, o dono do bar, lá de dentro do balcão, já apontou-lhe o indicador e fez sinal de "não" e, em seguida, o gesto de enxotar galinhas. "Aqui, não!", dizia a mímica. O bêbado, humilde, fez um gesto, "dizendo" que queria tomar apenas uma dose e, com o polegar e o indicador, informou o tamanho dela. Não era muito, ora! O dono do bar repetiu o gesto de enxotar galinhas. O bêbado, mais humilde, repetiu o gesto anterior, agora diminuindo o tamanho da dose. Não adiantou. O insensível dono do bar repetiu o gesto de "não" e tornou a enxotar galinhas. O bêbado, então, empertigou-se. Tirou do bolso um lápis e um papel. Deu três passos para trás. Olhou para a placa, no alto, onde estava escrito o nome do bar. Escreveu alguma coisa e voltou-se, muito autoridade, para o dono do bar e, com voz pastosa (também de bebum) sentenciou: "Você está na minha lista negra!".

Imagem: English Study Institute
http://esinstitute.blogspot.com.br/2010/11/to-get-wasted.html

18 de fev. de 2012

FUTEBOL, EDUCAÇÃO, GENIALIDADE, MALANDRAGEM.




Genialidade e malandragem costumam ser as qualidades mais apreciadas em jogadores de futebol. Nilton Santos reclamava de que, depois de todos os brilhantes serviços prestados ao Botafogo e à Seleção Brasileira, os comentaristas esportivos, muito tempo depois da copa de 1962, ainda lembravam aquele célebre passo para trás, para sair da área e evitar que o juiz marcasse pênalte (não me lembro de ter visto pênalte com acento. Muitas vezes, escrevem em inglês. Então, como dizia o Stanislaw Ponte Preta - nascido Sério Porto, confere aí, revisor. Como não tenho revisor, socorri-me do Aurélio. Está lá: pênalti. Corrige aí, daqui para a frente, e pronto!). Voltemos ao Nilton Santos. Era um jogo Brasil x Espanha, perdíamos por 1 x 0 e um segundo gol, de pênalti, poderia ter decretado a desclassificação do Brasil. O juiz foi na onda e o Brasil venceu, classificando-se e acabando campeão. Mas os cronistas esportivos jamais esqueceram a malandragem do Nilton Santos e, apesar da contrariedade dele, continuaram dando maior destaque à malandragem do que à genialidade, no que ele foi titular - o maior lateral esquerdo do mundo, em todos tempos, segundo muitos.
Os técnicos também dão muita importância à malandragem. Se não, coibiriam as malandragens dos jogadores (como um certo Telê Santana). Embora haja alguns lampejos de esportividade, no voleibol, principalmente - quando jogadores chegam a acusar um contato com a bola que saiu - jogadores de futebol caem em campo, simulando falta, seguram rapidamente o calção de um adversário e soltam imediatamente, desequilibrando o adversário, mas ocultando a falta. Sou contra o cartão amarelo para a simulação, porque tenho visto muitos árbitros errando, deixando de marcar pênalti e aplicando o amarelo no jogador que caiu. Acontece, também, que muitas quedas não resultam de falta mas de um tropeço e o jogador não simulou. Mas os árbitros não deixam de ter alguma razão. Hoje, assistindo ao jogo Mirassol x Santos, pelo campeonato paulista, vi o Ganso caindo após um choque e, no mesmo lance, o Neymar caindo, também. O Ganso chegou a ficar no chão. Acontece que, ato contínuo, um jogador do Santos retomou a bola e engrenou um contra-ataque. Foi o bastante para que o Ganso, principalmente se levantasse, ligeirinho, e saísse correndo - com o Neymar indo na onda. Como é que os juizes podem acreditar em boa fé?
No mesmo jogo, dois atletas do Mirassol praticaram faltas em que foram no corpo do jogador, ignorando a bola. Reclamaram do amarelão, veementemente. Em voleibol, não sendo qualquer deles capitão, isto resultaria em dois pontos para o adversário. Pode ser muito severo, em um esporte de resultados apertados, penalizar com um ponto. Mas que dá vontade, dá.
E a genialidade, onde fica? Penso que nossos comentaristas precisam criar gênios. O Ganso foi qualificado como gênio, no jogo de hoje. Ou não sei analisar, ou vi outro jogo, ou o Ganso não foi gênio. O motivo da qualificação foi em uma única jogada, que resultou em pênalti a favor do Santos. O Ganso ia aplicando um lençol no zagueiro, que cortou a trajetória da bola com a mão. Mas muitos jogadores fazem isto, habitualmente. E, se todos são gênios, não há gênio. Acho que o Ganso já mostrou muito mais, em um Santos que corria muito, no meio campo e no ataque. A saída de alguns jogadores tornou o time lento. O Ganso é muito lento. É freqüente vê-lo entregar uma boa e dar a impressão de que já cumpriu sua missão: não se desloca, chega a sair andando displiscentemente. Isto aconteceu até no jogo contra o Barcelona, no mundial de clubes. Não vi o gênio. Vi um jogador lento. Se o Ganso é gênio, em que patamar estiveram Zizinho, Jair da Rosa Pinto, Rubens, Zico e muitos outros, que se matavam em campo? Prefiro acreditar no meu velho professor Veloso, do Colégio Estadual de Belo Horizonte, segunda metade da década de 1950, aula de filosofia: "o gênio é 10% de inspiração e 90 % de transpiração". Já naquele tempo.
Finalmente, a educação. Deixo para o fim porque comento falta de. Jogadores xingando, gritando palavrões, ouvi o repórter de campo comentar que o quarto árbitro dirigiu-se, delicadamente, ao banco do Santos, e pediu que se portassem com educação, que evitassem os palavrões. Alguém do banco retrucou: quer educação? volte para a escola!
Penso que, exaltando, com insistência o malandro, qualificando de gênio qualquer um, e expulsando de campo a desportividade e a educação, estaremos contribuindo para distanciar a Seleção Brasileira da Copa do Mundo.

ADONIRAN BARBOSA: “ELIFAS, EU SOU ESSE PALHAÇO TRISTE AQUI, E NÃO O ALEMÃO QUE VOCÊ PÔS NA CAPA DO DISCO.”(1) - ADONIRAN, AO TELEFONE, PARA ELIFAS, ILUSTRADOR DO TERCEIRO DISCO (VINIL) DO COMPOSITOR.


Adoniran Barbosa é meu ídolo! Simplesmente, o compositor brasileiro de quem mais gosto. Não digo que seja melhor, nem pior. Como a Cavalaria – que não é melhor nem pior, é diferente. Questão de empatia. Estou quase certo de que vejo um Adoniran diferente de todos os demais compositores e até de como alguns de seus analistas vêem-no.
Estou terminando a leitura de um livro que esquadrinha não só a vida de Adoniran Barbosa, mas da própria São Paulo, do seu rádio, de sua televisão desde pequenininha, nas artes em geral (vide sobre arte gráfica, no texto entre aspas). Vale citar o episódio que deu origem à expressão aí de cima.



“Nesse ínterim, Elifas Andreato, já consagrado como ilustrador e capista de alguns dos monstros sagrados da música popular brasileira – deixara sua marca em LPs de Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Toquinho e Vinicius de Moraes, entre outros – preparava seu projeto para o álbum do autor de ‘Trem das Onze’. O artista gráfico teve a idéia de reproduzir na capa do disco uma placa comemorativa, usando relevo seco sobre papel laminado para obter o efeito das placas de metal comumente entregues em solenidades e ocasiões especiais. Para o encarte, Elifas elaborou um desenho em que Adoniran era retratado como um palhaço lacrimejante. Em seguida, levou a arte para Roberto Augusto, então diretor da Odeon, que, ao olhar a obra, ponderou: ‘Está lindo, mas você acha que ele vai entender esse negócio de palhaço?’. Em uma segunda análise, Elifas pensou que realmente Adoniran pudesse se ofender com a imagem. E preparou um outro desenho, de um Adoniran sóbrio, com a clássica imagem do chapéu e gravata borboleta. Mandou emoldurar o desenho antigo e entregou-o de presente a Fernando Faro(2), que pendurou o quadro em seu escritório. Depois de alguns meses, uma ligação do produtor chegava ao estúdio do ilustrador: ‘Baixo(3) , tem alguém querendo falar com você aqui’. Era Adoniran, que, de frente para a arte rejeitada, pegou o aparelho e sentenciou: ‘Elifas, eu sou esse palhaço triste aqui, e não o alemão que você pôs na capa do disco’. Do outro lado da linha, o desenhista corou. ‘Nunca senti tanta vergonha. Artista não dá pra subestimar. Subestimar artista é uma merda’.”.



(1) Celso Campos Jr., autor de “ADONIRAN uma biografia”, Editora Globo, 2ª edição, 2009, pág. 524.

(2) Produtor do terceiro álbum pessoal de Adoniran Barbosa.

(3) Segundo o autor, Fernando Faro tinha o apelido de “Baixo”, que era o vocativo que ele mesmo usava quando se dirigia a qualquer pessoa. No caso, dirigia-se a Elifas Andreato, o ilustrador.

FANTASIA: O SORRISO EM UMA FATIA DE PÃO

Simples, não é? E prazeroso, também. O acaso costuma mostrar-nos que a alegria pode estar em qualquer lugar.

16 de fev. de 2012

E VIVA A COEXISTÊNCIA PACÍFICA!



A Globo mostra! Não raro, extrapola. Em matéria de publicidade, então! Meu Deus!, como diz o Milton Leite, narrador esportivo do Sportv. A massa vai na onda. Mas, se a gente digerir legal, até que serve como caminho para a coexistência pacífica. Pois não é que, divulgando um CD do padre Reginaldo Manzotti - Em Deus um Milagre, se não me engano - colocou o "reclame" (grande Nei Lopes, Tempo de Don Don) imediatamente antes de matéria carnavalesca, com aquela tremenda mulata, peleca, pelequinha, balançando aquilo tudo, despertando na gente "...os instintos mais primitivos..." (Roberto Jefferson - deputado também é floclore, uai!). Aposto que tem gente que imagina que aquilo tudo, pintadinho para disfarçar, também é um milagre. E quem vai dizer que não é?

15 de fev. de 2012

SERÁ QUE SEGURA?


Pois não é que o Sport Club Corinthians Paulista está de novo patrocinador? Nada mais nada menos que a Jontex, líder no segmento de preservativos. Camisinha é uma outra coisa que a gente, no meu tempo, só comprava muito discretamente, no cantinho da farmácia, que nem as mocinhas compravam calcinhas: muito discretamente.
Mas fica bacana esse "Jontex" de todo tamanho aí nos peitos dos cracões.Tem muita gente que vai aaaadddoooooraaar, imaginando horrores. Com todo cuidado para não refrear os ânimos dos jogadores. Mas podendo ser aproveitado para recolher aquele material que, não raro, sai das bocas dos craques de futebol, a todo momento e com muita veemência, durante os jogos.

13 de fev. de 2012

É IMPORTANTE QUE SEJA SAUDÁVEL!



Ouvido de um garoto com cerca de seis anos, em um shopping, em Ribeirão Preto: "Pai, o senhor precisa me dar alguma coisa. Sorvete é saudável!"





Foto: O MELHOR DO BAIRRO.
https://www.omelhordobairro.com/tupipaulista/categoria/sorveteria/sorvetes 

FORÇANDO AMIZADE

Conheci esta expressão há poucos dias: forçando amizade. Minha mulher chegou do salão, dizendo que a manicure comentou que uma pessoa fora alvo de grandes elogios, ditos pessoalmente, por outra. Alguém comentou: está forçando amizade. A expressão cabe em grande número de pessoas conhecidas como puxa-sacos e em políticos em campanha. Ontem, vendo um jogo de futebol, lembrei-me do dito. Um jogador recebeu passe chamado "na cara do gol". Marcou. Quando o que deu a assistência se dirigiu para cumprimentá-lo, desvencilhou-se (até que quase delicadamente, na forma), e correu para abraçar o técnico. Esse jogador - como o técnico - tem passado por momentos de crítica da crônica e da torcida. Explicitamente, "forçou amizade". Sempre me arrepiaram as manifestações de jogador que faz gol evitar os companheiros e, principalmente, o companheiro que deu a assistência, e ir abraçar o técnico. Sou antigo. Do tempo em que o jogador que marcava indicava o passador como o autor do gol (ainda se vê isto, mas raramente). Agora, preferem "forçar amizade".

Foto: Casa de Inverno.
http://casadeinverno.wordpress.com/

11 de fev. de 2012

WANDO - O MARKETEIRO DA VERDADE

O cantor Wando grava vídeo para a campanha para angariar recursos do bloco Fogo e Paixão, do Rio de JaneiroSempre achei que o Wando extrapolou. Em "Moça", já se mostrava bastante vanguarda, em relação a explicitar o que se pretende de uma mulher: "me enrolar nos teus cabelos, abraçar teu corpo inteiro, morrer de amor, de amor me perder". "Em Deixa eu Te Amar", avançou mais um pouquinho. Daí, não parou mais. Por que achei que Wando extrapolou? Porque em "Emoções" ("...te agasalhei nos braços, pele, mãos, espaços, acariciei. Te amei suavemente e, tão docemente, eu me fiz teu rei"), Wando conseguiu ser - para mim - de um erotismo exacerbado, absolutamente romântico. Mas esse não era o limite de Wando. Queria escrachar erotismo, partiu para "Fogo e Paixão", "Safada", "Obceno", sempre na ânsia de analisar "Toda Mulher". Chegou a uma aparentemente herética "Nossa Senhora das Fêmeas" - mais do que uma ode à Lei Maria da Penha. Marketeiro de verdade e Marketeiro da Verdade: vendia o que as mulheres, desesperadamente, queriam comprar. Produzia e vendia o que elas queriam. Disse, há alguns dias, que sou o anti publicitário. Ao mesmo tempo em que admiro a publicidade brasileira, rica em criatividade, graça, sensibilidade, faço sérias restrições a um tipo de publicidade diferente, sem compromisso com a verdade, muitas vezes nem com a decência. Fala-se muito em ética na publicidade. Não vejo isto sempre. Por exemplo: a maioria das peças publicitárias para automóveis exibe a potência e a velocidade do veículo. Na mesma peça, quase sempre, a hipocrisia: "Se beber, não dirija" ou "respeite as leis de trânsito" (muitas das peças são um estímulo ao desrespeito às tais leis de trânsito). Não fico só aí: há alguns dias, foi veiculada uma campanha, parece que de uma associação de publicitários cá da minha terra. "ANUNCIE O NADA E VENDA TUDO". Me vi chamado de idiota!
Volto ao Wando: só agora, após a sua morte, consegui classificar o Wando como o Marketeiro da Verdade. Se o leitor se der o trabalho de ler "Tem Até Turbo?" (
http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com/2012/01/tem-ate-turbo.html), que postei em 27 de janeiro, verá que, há muitos anos, a gente nunca via uma mulher comprando uma calcinha, porque faziam isto bem escondidinhas, num canto de loja. No dia do velório do Wando, vi senhoras - inclusive uma que devia estar com seus sessenta anos ou mais um pouquinho - empunhando e até brandindo calcinhas, em homenagem ao artista. Entendi, então, que, durante toda a sua vida artística, Wando produziu e vendeu exatamente o que as consumidoras queriam - e precisavam muito - comprar explícitamente, sem falsos pudores, sem restrições, sem censura. Admirei o Wando muito mais!


Imagem: UOL.
https://carnaval.uol.com.br/2012/noticias/redacao/2012/02/09/bloco-fogo-e-paixao-que-homenageia-musica-de-wando-saira-no-domingo.htm


10 de fev. de 2012

JÁ VI ESSE FILME!





Acompanho, apenas pela tv, a greve dos PMs da Bahia. Ouço as avaliações, qualificações (ou desqualificações), classificações (desclassificações), etc., de um lado e de outro. Já vi esse filme. Como tenho mania de pensar no futuro, o que me preocupa, de fato, é que, daqui a vinte anos, poderemos ver esses grevistas se anistiarem, e obterem, na Justiça, indenizações pelas injustiças de que foram vítimas. E me vejo pagando por tudo o que nunca fiz. A luta continua, companheiros! Desde tempos imemoriais até, provavelmente, "per omnia saecula saeculorum" - um trem tão sério que falavam em latim!

EDIÇÃO EM 07/02/2014: Ô Sô do Céu! Revendo cadikim, encontrei o absurdo de ter estado me vendo - a mim mesmo - "pagando por tudo o que nunca fiz", daqui a vinte anos. Aos 72 anos, à época da edição, vai ser preciso que consiga chegar aos 92. Se estiver em boas condições, até que concordarei em pagar.

Imagem: Unidade Classista

http://csunidadeclassistasp.blogspot.com.br/2013/03/greve-de-24-horas-em-todos-os-setores.html

9 de fev. de 2012

O GOL DA VITÓRIA

Acho muito interessante a linguagem dos futebolistas. O esporte é (ou foi criado como) um esporte coletivo. Mas os raciocínios e as explicações levam a imaginar que é um esporte individual. Falam em "grupo" mas valorizam o indivíduo. "Mormentemente", como dizia Odorico Paraguassu, o indivíduo que faz os gols. Parece que os demais são meros figurantes. O goleiro, então, nem se fala. Há muito tempo, um cronista dizia que o goleiro é uma pessoa tão sofredora que, no lugar em que ele joga, não nasce grama (antigamente, havia uma "meia lua" de areia ou serragem, não sei, dentro da pequena área e aquele pedaço ali, onde falta é penalte, era chamado de "zona do agrião"). Na minha opinião, o Marcos (São Marcos) foi o melhor jogador da seleção brasileira, na copa de 2002. Mas o cracão foi o Ronaldo (mereceu muita homenagem, não só pelo jogador que era e que foi na copa, mas - muito mais, na minha opinião - por causa do grande esforço que desenvolveu para superar a lesão no joelho e colocar-se em condição de jogo). Mas, naquela copa, antes que o Ronaldo, ou qualquer outro tivesse feito um gol, o São Marcos havia garantido o zero pelo menos uma vez. Costumo dizer que goleiro não é valorizado porque - tirando o Rogério Ceni e um ou outro seguidor que vai aparecendo - o goleiro não ganha jogo. No máximo, empata, no zero a zero.
Mas vamos ao tal "gol da vitória". Quando a diferença, no resultado, é de apenas um gol, sempre dizem que o autor do último gol do time ganhador marcou "o gol da vitória". Por exemplo: um time vence por 3 x 2. Invariavelmente, o jogador que fez o terceiro gol fez "o gol da vitória". Mas será que foi assim mesmo? Para chegar ao terceiro, é preciso passar pelo primeiro e pelo segundo. Esses gols não foram "gols da vitória"? Nunca vi um time vencer por "terceiro gol" a dois.

Foto (1º gol de Rogério Ceni): Mundo 2 Cabeças Viajantes.
http://2cabecasviajantes.blogspot.com.br/2011/02/rogerio-ceni-rumo-aos-100-gols.html

6 de fev. de 2012

A QUESTÃO SERÁ FÉ DE MAIS OU FÉ DE MENOS?





Jogadores do Oeste comemoram o gol de Mazinho, que ergue as mãos para os céus
Jogadores do Oeste comemoram gol
de Mazinho, que ergue as mãos para os céus
(Legenda de foto no UOL Esporte)
Incomoda-me ver jogadores de futebol erguendo as mãos para o céu, logo após fazerem um gol. Agradecem a Deus. Incomoda-me, porque, dali a pouco, vejo-os fazendo faltas desleais, ou as tais "faltas táticas", engordando tempo, praticando o anti-jogo... Parece-me que as duas coisas não conseguem andar juntas: considerar-se protegido de Deus, e praticar o que - dizem - Ele não aprova.
Mas vou tolerando. Contrariado, mas tolero. Agora, o que aconteceu ontem, no jogo Cruzeiro x Guarani, em que o Guarani venceu, por 1 x 0, ultrapassou. Como disse o Chico Anísio (ou o Arnaud Rodrigues, não sei), num trabalho musical feito por ambos, "Baiano e os Novos Caetanos": "É demais pros meus sentimentos, tá sabendo?". Entrevistado, o goleiro do Guarani disse que a vitória não era mérito "nosso" (dos jogadores do Guarani), nem resultado do nosso trabalho. "Foi a mão de Deus!" Uai! Então, contrariando todas as doutrinas cristãs, e algumas outras que asseguram a existência de um Ser Supremo, Deus torceu contra o Cruzeiro. Acho que extrapolou. Primeiro porque, se numa outra oportunidade, o Cruzeiro vencer  Guarani, Deus será "vira fôia"? Segundo, porque penso que Deus não tem tempo para envolver-se em futebol. Será que não chegam as guerras, os terroristas, as misérias de todos os tipos que pululam pelo mundo? Já se vê que acredito que Ele existe, e que é poderoso até! Mas daí a torcer para o Cruzeiro, para o Flamengo, ou para o Guarani, vai uma distância enorme.

Foto: UOL Esporte FUTEBOL
http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2012/04/18/palmeiras-confirma-emprestimo-de-atacante-e-lateral-esquerdo-do-oeste-ate-fim-de-2012.htm